domingo, fevereiro 19, 2006

Life Can Be Fine If We Both Sixty Nine


Aconteceu mesmo o acontecimento que se dizia que ia acontecer no post anterior. A noite na semi-decadente, e por isso mesmo bela, Caixa Económica Operária foi mesmo dedicada à arte Monty Python.

Ficarão para os jornais das artes e as colunas culturais dos generalistas os relatos da festa, mas deixo-vos uma história que lá foi contada pelo Nuno Markl em relação às ideias destes senhores. De entre os sketches que acabaram por não ser concretizados, há a história de um que não foi avante por não ter sido aprovado pela British Broadcasting Corporation (não se assustem, é só a BBC).

Foi uma criação do Terry Gilliam (era o que fazia as cenas animadas que abundam pelos filmes) e constituía no seguinte:
A ideia era fazer um sketch longo (assim uns bons dez minutos). Ao longo da cena, a coisa não podia ter muita piada, mas tinha de ser extremamente interessante, para colar o público à TV.
O que quer que fosse decido dizer nesse texto não tem qualquer importância, o importante era que fosse bastante interessante para o público seguir tudo na maior atenção.
O que acontecia era que, ao longo do sketch, de um modo praticamente imperceptível (muito lentamente, portanto) o volume do som ia descendo (já disse que ia sendo muito lentamente?).
Como o texto/diálogo era tão extremamente interessante, de vez em quando os espectadores tinham tendência a levantar o volume ao televisor. A coisa ia decorrendo neste registo, os tele-espectadores a seguir o que se passava, a ver no que aquilo ia dar, e iam, quase inconscientemente, subindo o volume do aparelho.
Então, ao fim desses dez minutos - em que provavelmente as pessoas já teriam o volume da TV no máximo, para conseguir ouvir decentemente o que se passava - seria exibido, completamente do nada e incompreensivelmente fora de contexto, o ruído mais extraordinariamente alto, mais estupidamente irritante e mais totalmente ensurdecedor que alguma vez se ouviu na história da televisão!

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Genial, não? Se pensarmos que, no final dos anos '60, quando passava a série, esta tinha bastante audiência (também não passava mais nada) e não havia controlos-remoto para rapidamente calar aquilo, é fácil de imaginar o tropel que brotaria por uma boa metade do Reino-Unido. Quem passasse por qualquer bairro residencial pensaria tratar-se do dia do apocalipse. Aconteceria uma boa quantidade de ataques cardíacos, as crianças chorariam ininterruptamente, os serviços de chá quebrar-se-iam e as avós entrariam em estado de choque.

A BBC não autorizou. Não percebo porquê.

O Vosso,
Eládio

1 Comments:

At 12:04 da tarde, fevereiro 20, 2006, Anonymous Anónimo said...

Provavelmente a primeira ideia de humor interactivo do mundo, quiçá da europa?!

 

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